Escola Bíblica

Escola Bíblica: quando a família age por conta própria

Leia o comentário da lição de adultos desta semana feito pelo diácono Rúben Alves.

Foto de Cindy Tang na Unsplash.
Foto de Cindy Tang na Unsplash

2º trimestre de 2023 | Lição: Relacionamentos em Família;
Lição 1: Quando a Família Age por Conta Própria;
Texto áureo: “Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque; e com ele estabelecerei o meu concerto (…)” Gn 17:19;
Verdade Prática: Quando o ser humano se precipita a respeito dos planos, as consequências dessa ação são inevitáveis.

Superando desafios e problemas com exemplos da Palavra de Deus

Introdução

A Declaração de Fé das Assembleias de Deus, registra que “CREMOS professamos e ensinamos que a família é uma instituição criada por Deus, imprescindível à existência, formação e realização integral do ser humano, sendo composta de pai, mãe e filho(s).” Com base neste contexto, estaremos estudando neste trimestre sobre a família, descrevendo através da Bíblia como devemos nos comportar em meio a todos os desafios que este projeto de Deus enfrenta todos os dias.

Preposição

Contexto e origem da palavra família

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra família denota o significado de um conjunto de pessoas que possuem um grau de parentesco ou laços afetivos que compõem um lar. Decerto, William Coleman explica que nos tempos do apóstolo Paulo, esta palavra atribuía o sentido de comunhão, de alegria e compartilhamento de sentimentos. Além disso, Russell Chaplim, acrescentando sobre este assunto, descreve que família é um grupo de pessoas, compostas por um homem, chamado marido, de uma mulher chamada esposa e por seus filhos. Este projeto foi arquitetado por Deus, portanto é perfeito e alicerçado por sua Palavra.

Abrão, o pai da fé

Quando o assunto é Fé, se torna notório o pensamento no personagem bíblico por nome de Abraão, tendo em vista a sua demonstração surreal do crer no impossível. Segundo o escritor Charles R. Swindoll, Abraão foi um homem incomum para o seu tempo, em razão de que o contexto histórico da época apontava para o politeísmo radical, ninguém acreditava na existência de um deus invisível e sem forma, Abraão quebrou paradigmas ao decidir levar para si a crença em YEAWEH, O DEUS VERDADEIRO. Este homem viveu perto do final da Era do Bronze (c. 2000 a.C.), em uma cidade próspera, agitada e civilizada conhecida como “Ur dos caldeus” (Gn 11:28).

A terra dos caldeus também conhecida como Mesopotâmia, onde hoje se localiza o Iraque, é uma região que os arqueólogos e historiadores chamam de berço da civilização, pois foi ali que povos antigos se agruparam em cidades e estabeleceram sociedades. Abrão era um membro comum da sociedade, em nada se diferenciava de seus vizinhos. Ao nascer, recebeu um nome que significa “o pai é exaltado”, muito provavelmente uma referência à divindade adorada por sua família. As pessoas da Mesopotâmia antiga adoravam um panteão mítico governado pelo deus da lua, conhecido como Sin, a quem consideravam “o senhor do céu” e “o criador”.

Todavia, quando iniciamos a leitura de Gênesis 12, vemos Abrão deixar para trás sua terra, seu povo, sua cultura, sua religião, pois a partir do momento que ouviu a promessa de Deus, decidiu seguir rumo a uma jornada desconhecida. Warren Wiersbe, descrevendo sobre esta passagem, retrata que Deus não deu a Abrão motivos ou explicações. Deu-lhe, simplesmente, uma promessa e esta promessa mudou a sua vida por completo. Mostrando dessa forma, como uma fé verdadeira e genuína se comporta, pois não se baseia em coisas supérfluas, mas sim na Palavra de

Desenvolvimento

I – Deus faz promessas a Abrão

O encontro de Deus com Abrão: Abrão tinha 75 anos quando o Senhor se revelou para ele. Era casado com Sarai, sua meia-irmã (Gn 20:12), e não tinham filhos. No entanto, Deus no meio das improbidades gerou um milagre na vida deste casal, de modo que mesmo Abrão já estando em avançada idade, não foi impedimento para Deus realizar as suas promessas (Lc 1:37). Entretanto poderíamos indagar: por que Deus chamaria este simples casal para realizar a sua obra? Paulo dá a resposta em 1 Coríntios 1:26-31. Deus chamou Abrão depois que os gentios haviam caído em pecado e se afastado do verdadeiro Deus vivo. Não nos é dito como Deus apareceu a Abrão mas, de acordo com o registro de Gênesis, foi a primeira de sete vezes que Deus se comunicou com Abrão. A revelação de Deus deve ter mostrado a Abrão a vaidade e insensatez da idolatria em Ur. Quem iria querer adorar um ídolo morto depois de ter um encontro com o Deus vivo? 1 Tessalonicenses 1:9-10 e 2 Coríntios 4:6 descrevem essa experiência de salvação.

Warren Wiersbe destaca que há pelo menos três motivos pelos quais Deus chamou Abrão e Sarai

1º) O seu amor: Deus estava preocupado com a salvação deles, de modo que revelou sua glória e compartilhou com eles suas bondosas promessas. Mas, além da salvação pessoal deles, o propósito de Deus era abençoar todos os povos da Terra. Isso aconteceu quando Deus enviou seu Filho ao mundo por meio do povo de Israel. Cristo morreu pelos pecados do mundo (1 Jo 2:2; 4:14) e quer que sua Igreja conte as boas novas da salvação a toda Terra (Mc 16:15).

2º) Deus decidiu abençoar outras famílias através deles: Abrão teve uma família abençoada, obteve honras, sonhos realizados, mas não imaginava que através da sua vida, as bênçãos do Senhor seriam repassadas para toda a humanidade, o plano perfeito de Deus não estava incluindo somente o Pai da fé, mas todos os seus descendentes e filhos adotados por Deus, através do sacrifício vicário de Cristo (Gn 12:3).

3º) Os escolheu para serem exemplos: a vida de Abrão é um exemplo para todos os cristãos que desejam andar pela fé. Abraão foi salvo pela fé (Gn 1:5-6; Rm 4:1-5; Gl 3:6-14) e viveu pela fé (Hb 11:8-19), e essa fé ficou evidente em sua obediência (Tg 2:14-26). Abrão obedeceu quando não sabia onde (Hb 11:9-10), como (vv. 11-12), quando (vv. 15-16) nem porquê (vv. 17-19), e nós devemos fazer o mesmo.

Hernandes Dias Lopes, destaca que a promessa de Deus para Abrão possui algumas etapas

1ª) de ti farei uma grande nação (12:2): Waltke diz que a magnitude da promessa a um esposo com uma mulher estéril testa a fé de Abrão ao limite máximo. Ao não entregar-se à incredulidade, Abrão serve como um modelo para o povo pactual: “Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque era ele único, quando eu o chamei, o abençoei e o multipliquei” (ls 51:2).

2ª) te abençoarei (12:2b): a palavra “abençoar” ocorreu apenas cinco vezes em Gênesis 1 a 11, e agora ocorre cinco vezes apenas em Gênesis 12:1-3. A bênção traz poder para a vida, bem como o fortalecimento e o crescimento desta. Bräumer diz que “bênção” é a garantia de proteção e cuidado, a promessa de graça e o presente da paz.

3ª) te engrandecerei o nome (12:2c): no antigo Oriente Médio, um nome não era meramente um rótulo, mas a revelação do caráter e este equivale à pessoa ou personalidade. Assim, um grande nome acarreta não só fama, mas alta estima social, como um homem de caráter superior. Deus quer fazer de Abrão uma personalidade inigualável. Os construtores de Babel quiseram tornar o seu nome grande e foram desbaratados. Abrão, porém, teve seu nome engrandecido por Deus e entrou para a história com seis títulos de honra:

1 – pai de numerosas nações (17:5);
2 – confidente de Deus (18:17-19);
3 – profeta (20:7);
4 – príncipe de Deus (23:6);
5 – servo de Deus (Sl 105:6);
6 – amigo de Deus (2 Cr 20:7).

4ª) sê tu uma bênção (12:2d): Deus abençoa Abrão para que ele fosse portador de sua bênção (Sl 67:7), e isso está de acordo com o que diz a Escritura: “a memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão” (Pv 10:7).

5ª) abençoarei os que te abençoarem (12:3): a força abençoadora vale para todos aqueles para quem Abrão é pai. Waltke diz que isso se refere aos que, por meio da oração, buscam mediar a bênção de Deus nesse agente de bênção, Abrão, e seus fiéis descendentes. Até que Cristo venha, Abrão e seus descendentes exercerão um papel messiânico representativo e prefiguram Cristo. A promessa hoje não pertence a um “Israel” étnico e incrédulo (Rm 9:6-8; Gl 6:15), mas a Jesus Cristo e sua igreja (12:7, 15:16, Gl 3:16, 26-29; 6:16).

6ª) amaldiçoarei os que te amaldiçoarem (12:3b): quem se opuser a Abrão está se voltando contra a promessa que Deus fez a Abrão, de ser o pai de numerosas nações, o pai dos cristãos. O Novo Testamento conhece uma exclusão da comunhão da igreja que começa com a fórmula: “Que seja amaldiçoado” (anathema). Se alguém não ama o Senhor, seja anátema… (1 Co 16:22). Quem não ama a Jesus está exposto à ira de Deus e é publicamente excluído da igreja e entregue ao juízo de Deus.

7ª) em ti serão benditas todas as famílias da terra (12:3c): a bênção pessoal de Abrão é ao mesmo tempo uma bênção para outros. “Abrão se torna uma fonte de bênção, que jorra a bênção da qual ele mesmo está repleto”. O apóstolo Paulo chama o Messias de descendente de Abraão (Gl 3:16). A promessa feita a Abrão cumpriu-se em Cristo, e aqueles que creem em Jesus são filhos de Abraão (Gl 3:7). Os da fé é que são abençoados com o crente Abraão (Gl 3:9). Os verdadeiros filhos de Abraão não são aqueles que têm o sangue de Abraão correndo em suas veias, mas os que têm a fé de Abraão habitando em seu coração.

A dúvida após a promessa: Elianai Cabral explica que as dúvidas podem gerar em nossas vidas atrasos nos planos de Deus, pois causa transtornos na forma como Deus deseja que a gente siga na jornada preparada por Ele, ou seja, quando confiamos no Senhor nenhuma provação é difícil de vencer, mas quando a confiança não existe, o fracasso bate na porta e os sentimentos de angústia e decepção surgem na vida do cristão.

Abrão estava com 85 anos, aprendendo as preciosas lições sobre a fé, isto é, o tempo de espera, que Deus o fez passar, é uma escola para gerar amadurecimento para a igreja de Cristo (Hb 6:12). Além do mais, o nascimento de Isaque fazia parte do plano perfeito de Deus, pois através desta criança surgiria Israel, a nação escolhida do Senhor, para futuramente vir ao mundo Jesus Cristo, o redentor e o Messias prometido.

William Coleman traz uma informação muito interessante acerca do contexto cultural da época, descrevendo que uma das maiores alegrias de um casal judeu era ter filhos. Entretanto, quando ocorriam problemas de fertilidade, o cônjuge era considerado amaldiçoado por Deus pelos seus compatriotas judeus, pois se não podiam gerar, não eram dignos das bênçãos de Abrão. Ademais, quando o problema de não poder gerar filhos fosse diagnosticado na mulher, esta era tratada com repúdio e uma vida de sofrimento lhe aguardava. Em adendo Matthew Henry, explica que mesmo Abrão recebendo as promessas de Deus, dúvidas surgiram e por consequência o esfriamento espiritual apareceu. Sarai colocou em seu coração, que não podia ter filhos porque Deus a tinha impedido, pois pensava que a promessa de Deus era somente para o seu esposo, esquecendo que o plano preparado por Deus também a incluía.

Deus garante a Abrão o comprimento da promessa: a mulher hebreia daquela época era ensinada desde o seu nascimento para ser mãe, cuidadora da casa e auxiliadora do seu esposo (Pv 18:31). O pastor Elienai Cabral, ensina que quando Deus promete, Ele cumpre (Sl 89:34). Todavia, Sarai e Abrão vacilam, colocando em seus corações sentimentos voltados para a invalidez da promessa de Deus, sendo assim, Sarai coloca em prática o seu plano de querer agir fora dos planos de Deus (Gn 16:3). Abrão, o homem conhecido como o Pai da Fé, agora estava atribulado e sua fé abalada, sendo que não teria forças para combater todo o ardiloso projeto de sua esposa.

II – Interferência no plano de Deus

A tentativa de Sarai em “ajudar a Deus”: naquele período existia um sistema político conhecido como “O Código de Hamurabi”, que permitia ao marido pegar uma serva para ser a sua mulher e engravidá-la caso a sua esposa fosse infértil. Desta forma, o filho que a sua serva gerasse seria da sua esposa e o marido o declararia como o seu herdeiro. Sarai ciente deste sistema usou de artimanha para querer melhorar a situação do seu casamento. Orientou que a sua serva, por nome de Agar, deitasse com Abrão para que o filho gerado desta relação fosse dado para ela e assim os problemas dantes vividos seriam extintos. Entretanto esta escolha gera sérios problemas no seio familiar de Abrão, conflitos surgem entre ele e sua esposa. Agar e Sarai entram em discórdia pelo fato de Agar debochar e humilhar Sarai por não poder ter filhos, além disso, Ismael, o filho gerado por consequência desta atitude errada, futuramente daria origem a nação dos Árabes que até hoje guerreia ferozmente contra o povo de Israel, descendência de Isaque, o filho da promessa. Mediante o exposto, o escritor da lição finaliza este tópico, informando que todo o casal deve sempre possuir uma boa comunicação para não gerar problemas, ocasionados por escolhas erradas e precipitadas, visto que a falta de diálogo e oração são cenários perfeitos para o diabo trabalhar.

Os dois vacilam na fé: o escritor da lição denota que o cuidado para não interferir nos planos de Deus deve perdurar em nossas vidas, uma vez que Deus sabe o tempo e a oportunidade certa para agir, logo, não cometeremos o erro de querer apressar as coisas (Ec 3:1). Concordo quando Russell Chaplim explica que Sarai muitas das vezes é mal interpretada, por consequência de sua escolha. Entretanto, quando a sua situação é analisada de perto, é perceptível identificar a sua fragilidade e falta de esperança em poder engravidar. Tendo em vista que a sua juventude já a tinha deixado e para não deixar o seu marido sem filhos, acaba tomando uma atitude errada. Consequentemente, Abrão não agiu com sabedoria, esquecendo do seu papel como sacerdote espiritual da casa.

O problema da precipitação: Matthew Henry informa que por mais que uma escolha pareça agradável e proveitosa, se não for de acordo com a vontade do Senhor trará grandes prejuízos, sendo estes em curto ou a longo prazo, visto que tais atitudes ocorrem pela falta de oração e de buscar a orientação de Deus sobre questões cruciais da nossa vida.

III – As consequências de uma decisão precipitada

O Conflito na Família de Abrão: neste ponto percebemos que Sarai culpa veementemente Abrão por todos os problemas ocorridos (Gn 16:5), deste modo toda a sua frustração, por não poder engravidar, pelo seu plano que acabou não funcionando, ocupou o seu coração de uma raiva demasiada, pois além de nada está dando certo, Abrão fica omisso com toda a situação, demonstrando sua fraqueza e falta de pulso para resolver todo esta balbúrdia.

A fraqueza de Abrão: os problemas familiares consolidaram este casal. Conflitos diários, ciúmes e desavenças retiraram de Abrão e Sarai a paz de um casamento feliz; eventualmente somente a ação divina do Senhor resolveria todo este pandemônio. Certamente o agir daquEle que não erra, que não falha, que não mente e sempre cumpre as suas promessas, acabaria com tudo isso (Nm 23:19). Em síntese, vemos Deus realizar a sua promessa para este casal depois de mais 20 anos de espera. O Senhor lhes concede o filho tão esperado e demonstra para ambos, que mesmo com suas escolhas erradas e falta de fé, não impediram do Senhor realizar tudo aquilo que prometeu (Gn 21:1).

Uma jornada equivocada acerca de Deus: finalizando este último tópico da lição, o pastor Elienai Cabral enfatiza sobre o papel do sacerdote do lar. Nisso o pai cristão tem a responsabilidade de ensinar seus filhos no caminho de Deus. Também deve orar por sua família e ser um bom exemplo de obediência a Deus. Isso é parte do trabalho de um sacerdote, mas não é exclusivo ao pai. A mãe também tem a responsabilidade de ensinar, orar e ser exemplo de vida. Os filhos cristãos também podem participar dessas coisas. Todo cristão é sacerdote, em casa ou em qualquer outro lugar.

Conclusão

Abrão e Sara não eram perfeitos, mas, de modo geral, a caminhada deles caracterizou-se pela fé e pela fidelidade. Quando pecaram, sofreram por isso, e o Senhor mostrou-se sempre pronto a perdoá-los quando se arrependeram. “A vida cristã vitoriosa”, disse George Morrison, “é uma série de recomeços”. Portanto, permaneça confiante em Deus e acreditando que tudo que Ele prometeu um dia será cumprido. Finalizo este breve resumo da primeira lição deste trimestre com a frase de Joseph Parker que certa vez escreveu: “Grandes vidas são moldadas por grandes promessas”.

Referências:

  • Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos – William L. Coleman;
  • O Pentateuco – Warren Wiersbe;
  • Livro de apoio da lição – Elienai Cabral;
  • Comentário Bíblico do Antigo Testamento – Matthew Henry;
  • Comentário Bíblico de Gênesis – Russell Chaplim;
  • Comentário Bíblico Expositivo de Gênesis – Hernandes Dias Lopes.

Diácono Rúben Alves – AD Chã do Pilar

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AD Chã do Pilar

Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Chã do Pilar